8 desafios na nutrição de filhotes

8 desafios na nutrição de filhotes

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É fundamental ter atenção à alimentação em todas as etapas de desenvolvimento dos filhotes para que eles cresçam de forma saudável; saiba quais cuidados tomar em cada momento

A nutrição do filhote é um ponto crítico que exerce influência direta no desenvolvimento de gatos e cães saudáveis. Equívocos cometidos durante essa fase podem afetar a saúde e o bem-estar desses animais por toda a vida, e o Médico-Veterinário possui papel fundamental nas recomendações de manejos e orientações gerais sobre os cuidados com os pets.

Veja a seguir mais detalhes sobre por que o filhote demanda uma alimentação adequada e os desafios encontrados pelo Médico-Veterinário nessa etapa da vida dos gatos e cães.

A importância da nutrição para os filhotes

A nutrição dos filhotes deve ser balanceada e adequada a fatores como idade, peso, porte e raça, visando crescimento saudável, maior qualidade de vida, prevenção de doenças, além de outros benefícios.

O fornecimento de nutrientes na medida certa é imprescindível para evitar a subnutrição, a supernutrição, que resulta em obesidade e outras enfermidades, como doenças ósteo-articulares. Além disso, os filhotes possuem um metabolismo mais acelerado e, portanto, necessitam de alimentos com maiores índices de energia.

Diante de tudo isso, o suporte nutricional e manejo alimentar adequados às necessidades de cada filhote contribui para:

  • desenvolvimento e fortalecimento do sistema imunológico contra infecções e diversas doenças;
  • fornecimento de suporte para a barreira cutânea natural, visando manter a saúde da pele;
  • fornecimento da medida ideal de cálcio e fósforo na formulação do alimento, contribuindo para o crescimento adequado de articulações, músculos e ossos do filhote, tornando-os mais fortes e saudáveis;
  • facilitar a preensão de alimentos e estimular o filhote a mastigar o croquete, que possui o tamanho e a textura ideal;
  • fornecimento de suporte para a saúde digestiva e microbiota balanceada;
  • desenvolvimento cerebral;
  • outros.

Principais desafios nutricionais para filhotes de cães e gatos

Mas na prática, como fazer o manejo nutricional adequado de filhotes? E como orientar o tutor? Quais os cuidados essenciais nesse momento tão delicado da vida dos pets?

O Médico-Veterinário deve estar atento e orientar o tutor sobre o manejo nutricional da fêmea durante a gestação e a lactação e também dos filhotes após o nascimento, visando o crescimento saudável do pet.

Os desafios nutricionais envolvem diversos fatores como o tamanho da ninhada, a taxa de crescimento dos filhotes, desidratação, hipoglicemia, hipotermia, entre outros. O período do desmame também é um ponto delicado, visto que ocorre a transição alimentar e, consequentemente, a exposição do filhote a alimentos variados e adequados para atingir as exigências nutricionais.

A seguir, detalhamos todos esses pontos.

1. Ingestão do colostro e desenvolvimento da imunidade

O colostro é a primeira secreção láctea da mãe e possui quantidade representativa de imunoglobulinas, água e nutrientes essenciais para os recém-nascidos. O colostro confere imunidade passiva aos filhotes por meio da transferência dos anticorpos maternos, com pico de produção em 8 horas após o parto. O desafio aqui é garantir que os filhotes ingiram o colostro nas primeiras 24 horas após o nascimento.

No entanto, apesar de essencial para a sobrevivência, a presença dos anticorpos maternos também interfere para que o filhote desenvolva a própria imunidade na resposta às vacinas convencionais. Esses anticorpos maternos têm uma vida útil finita e, portanto, se degradam, permitindo que o filhote substitua os anticorpos maternos por anticorpos que ele mesmo produz. Somente quando os anticorpos maternos estão suficientemente degradados é que o filhote é capaz de gerar sua própria resposta imune adaptativa para a memória protetora à vacina.

O período em que o filhote não está mais protegido pelos anticorpos maternos e ainda não possui anticorpos suficientes para se proteger é chamado de janela imunológica. Em uma ninhada, ou em ninhadas distintas, cada indivíduo absorve diferentes quantidades de colostro. Essencialmente, isso significa que o momento da janela imunológica (imagem 1) varia de um animal para outro, e cada um torna-se capaz de responder à vacinação em momentos diferentes.

Janela imunológica
Imagem 1: Detalhes do período da janela imunológica. Fonte: ROYAL CANIN®

Por volta de 2 a 4 meses de idade, os filhotes e seu sistema imunológico são muito desafiados, já que é nessa época que a maioria deles passa por situações de estresse como mudança de casa, separação da mãe e dos irmãos de ninhada, mudança de dieta e vacinação.

O indivíduo da ninhada que recebeu menos colostro pode ser capaz de responder à vacinação às 8 semanas de idade, enquanto outros ainda podem ter anticorpos maternos persistentes até 12 semanas de idade ou mais. É por isso que a WSAVA (World Small Animal Veterinary Association) recomenda a última dose de vacinas essenciais para filhotes com 16 semanas de idade ou mais.

2. Tamanho da ninhada x produção de leite

A produção de leite da mãe aumenta em função do número de filhotes, mas não de forma proporcional. Quanto mais numerosa a ninhada, maior será a competição e menor será a quantidade de leite disponível por filhote. Nestes casos, o desafio é observar se há competição e identificar possíveis filhotes que estejam crescendo em menor ritmo.

3. Taxa de crescimento

Filhotes apresentam altas demandas nutricionais para o seu crescimento e aí já temos mais um desafio, agora para o animal em si. Para aumentar 1 grama de peso, o filhote deve ingerir, no mínimo, 2,7 gramas de leite. Em caso de crescimento insuficiente dos filhotes, é aconselhável proceder à amamentação artificial ou iniciar a transição gradual precoce para alimento pastoso.

Para acompanhar a taxa de crescimento dos filhotes, o WALTHAM® (Petcare Science Institute) desenvolveu uma ferramenta de grande utilidade para Médicos-Veterinários, no qual a curva de crescimento dos filhotes de cães e gatos pode ser registrada e comparada à taxa de crescimento esperada para a espécie/raça.

Saiba ainda como acompanhar o crescimento do filhote

4. Desidratação, hipoglicemia e hipotermia

Os neonatos apresentam mecanismos de homeostase ainda imaturos, portanto são mais susceptíveis à desidratação, hipoglicemia e hipotermia – as principais causas de mortalidade neonatal. Por esse motivo, é importante manter o neonato em ambiente com temperatura adequada e garantir a ingestão do leite materno para mantê-lo hidratado e suprir as necessidades energéticas.

5. Desmame dos filhotes

Ao nascimento, o filhote possui um trato digestivo adaptado à digestão do leite materno graças à presença da enzima lactase, que digere a lactose (açúcar do leite). Durante o desmame, os filhotes passam a digerir cada vez menos leite e, consequentemente, a lactose à medida que adquirem a capacidade de digestão do amido presente nos alimentos (Imagem 2). Por isso, até os 3 meses de idade o risco de diarreia por má digestão é bastante elevado, e os quadros de diarreia devem ser evitados já que os filhotes são muito mais susceptíveis à desidratação.

Capacidade digestiva dos filhotes
Imagem 2: Mudanças na capacidade digestiva do filhote conforme seu desenvolvimento. Fonte: ROYAL CANIN®, 2018

Guiar o desmame é mais um desafio por aqui. O desmame geralmente é iniciado por volta da 4ª semana de vida, com a introdução de alimentação pastosa (“mingau”) ou úmida, intercalada com mamadas esporádicas.

O mingau pode ser feito com a reidratação de um croquete de alimento que possua a tecnologia de reidratação, com a diluição de 2 partes de água à temperatura de 60ºC para 1 parte do alimento seco por 20 minutos. No início, é consumida uma pequena quantidade do mingau semissólido, pois o leite materno continua sendo a principal fonte alimentar da ninhada. Depois de 2-3 dias de alimento na consistência de mingau, os filhotes já passam a fazer a preensão do alimento e a diluição deve ser menor (1:1).

Os dentes decíduos (dentes de leite) sofrem erupção entre 21 e 35 dias após o nascimento e, com isso, os filhotes felinos e caninos adquirem a capacidade de mastigar e consumir alimento sólido em torno de 5 a 6 semanas de vida. O desmame nutricional é concluído normalmente com 6 semanas de vida, embora algumas cadelas e gatas possam permitir que seus filhotes mamem até 8 semanas de vida ou mais.

Após o desmame, o filhote deve ser submetido à alimentação seca apropriada para essa etapa da vida. Os croquetes devem ser de dimensões pequenas para facilitar a preensão. Sempre se deve deixar água limpa e fresca à disposição dos filhotes.

6. Exposição a variedades de alimentos

Os filhotes são condicionados, desde muito cedo, às preferências alimentares que permanecerão por toda a sua vida e tendem a aceitar mais um alimento novo se forem alimentados na presença da mãe. A aceitação geralmente ocorre em algumas horas na presença da progenitora. Esse é o período que estão mais receptivos a aprender e conhecer coisas novas e é o melhor momento para terem contato com variedades de texturas e formatos de alimentos, por exemplo, alimento seco e alimento úmido. O desafio é aproveitar essa janela.

Alguns animais, principalmente gatos, podem desenvolver neofobia alimentar caso não tenham sido apresentados a novas texturas de alimentos quando filhotes.

O alimento fornecido desde o período de desmame deve ser caracterizado por uma palatabilidade suficiente para atrair os filhotes. O olfato é o primeiro sentido discriminativo na seleção do alimento, e por este motivo os aromas são características de extrema importância na formulação destes alimentos.

7. Exigências nutricionais

Os filhotes necessitam de alimento concentrado em termos de energia e nutrientes. As exigências nutricionais variam de acordo com a espécie, porte e fase.

Em gatos até os 4 meses de vida, o crescimento é intenso e rápido, requerendo um alimento mais energético. Dos 4 aos 12 meses de vida, o animal ainda está crescendo, mas de forma mais lenta e gradativa, tornando-se necessária uma alimentação com um teor energético moderado.

Em cães, a variação é ainda maior. Cães miniatura e pequenos completam o crescimento entre 8-10 meses de vida, cães médios aos 12 meses, grandes entre 15-18 meses e gigantes de 18-24 meses. Com isso, os requerimentos nutricionais devem atender, especificamente, cada curva de crescimento específica de cada porte. A necessidade energética de cães filhotes pode ser até duas vezes maior do que um adulto do mesmo porte.

A gordura é uma importante fonte de energia durante o crescimento, sendo uma fonte concentrada de ácidos graxos. Dentre os essenciais, destacamos o ácido docosahexaenoico (DHA) e o eicosapentaenoico (EPA) da série ômega 3, e ao ácido linoleico (LA) e araquidônico (AA) da série ômega 6. Eles atuarão sobre o desenvolvimento do filhote e a qualidade de pele e pelagem, respectivamente.

Dentre os micronutrientes, destacamos a importância tanto da quantidade adequada quanto o equilíbrio ideal dos minerais cálcio e fósforo. Eles têm um papel importante na formação ativa de ossos e dentes durante a fase de crescimento. A deficiência de algum destes minerais pode acarretar malformações e a não mineralização óssea. Raças de porte grande e gigante são mais suscetíveis aos excessos, o que se faz necessário um controle mais rigoroso e a correta orientação aos tutores.

8. Adequação do manejo alimentar

O tamanho das porções das diferentes opções de dietas pode variar, pois cada alimento terá uma densidade calórica. Assim, é recomendável sempre prescrever a transição gradual de um tipo de alimento a outro, que geralmente tem a duração média de 7 dias.

A orientação acerca do fracionamento da necessidade diária em algumas refeições ao longo do dia é de extrema importância para evitar erros de manejo que frequentemente resultam em filhotes superalimentados e com grandes chances de se tornarem adultos obesos.

Como a Royal Canin auxilia no desenvolvimento saudável dos filhotes

A ROYAL CANIN® possui soluções nutricionais para filhotes de gatos e cães em diferentes fases de crescimento. Cada fórmula foi criada para fornecer a nutrição ideal para as necessidades individuais de cada animal, independentemente de tamanho, raça, idade ou estilo de vida.

Linha de alimentos para filhotes caninos

Os alimentos secos e úmidos são produzidos com ingredientes de altíssima digestibilidade, formulados pelos mais experientes profissionais e baseados nas reais necessidades dos filhotes em desenvolvimento.

Linha de alimentos para filhotes felinos

Utilize a Calculadora para Prescrições para verificar qual é o tipo ideal de alimento para os seus pacientes a quantidade diária recomendada.

Recomendações aos tutores

Para não causar desequilíbrios no organismo do animal e, consequentemente, prejudicar o crescimento saudável dos filhotes, o Médico-Veterinário deve orientar os tutores sobre a forma correta de alimentar e nutrir os neonatos e filhotes, além de cadelas e gatas gestantes e lactantes.

O profissional também deve recomendar que eles sejam levados às consultas veterinárias de rotina para avaliações, realização do protocolo vacinal e acompanhamento do estado geral de saúde.

Referências bibliográficas

WSAVA – World Small Animal Veterinary Association. Diretrizes para a vacinação de cães e gatos. Guidelines. Journal of Small Animal Practice, v. 57, p. 1-50, 2016. Disponível em: https://wsava.org/wp-content/uploads/2020/01/WSAVA-vaccination-guidelines-2015-Portuguese.pdf. Acesso em: 13 set. 2022.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutrient requirements of dogs and cats. Washington, D.C: National Academy Press, 2006.

CRESPILHO, André Maciel et al. Abordagem terapêutica do paciente neonato canino e felino: 1. Particularidades farmacocinéticas. Rev Bras Reprod Anim, Belo Horizonte, v.30, n.1/2, p.3-10. 2006. Disponível em: http://www.cbra.org.br/pages/publicacoes/rbra/download/RB029%20Crespilho%20p3-10.pdf. Acesso em: 13 set. 2022.
PRATS, A. Farmacologia e terapêutica veterinária. In: Prats A. (Ed.). Neonatologia e pediatria canina e felina. Madri: Interbook, p.270-3001, 2005.